Centers for Disease Control and Prevention |
A superbactéria Sarm: considerada a principal responsável pelas infecções hospitalares, ela se aproveita de lesões na pele |
De acordo com o coordenador do projeto e presidente da Extracta, o médico Antonio Paes de Carvalho, que também é professor titular do Instituto de Biofísica, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a nova espécie de planta foi descoberta em uma propriedade rural de São José do Vale do Rio Preto, na região serrana do estado, durante uma incursão do botânico Mario Gomes, a serviço da empresa. Ela foi registrada em um grande banco de dados, que já reúne quase 12 mil exemplares de extratos de plantas da biodiversidade brasileira, com potencial para a fabricação de medicamentos. "O banco de extratos da empresa é plenamente autorizado pelo Conselho de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente", diz o pesquisador. "Cerca de 80% do acervo é de espécies coletadas nas matas fluminenses", completa.
O projeto foi contemplado pela FAPERJ com o edital de Auxílio a Projetos de Inovação Tecnológica, depois que o estudo recebeu um apoio inicial da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Além de catalogar a nova espécie de planta, os pesquisadores da Extracta identificaram uma molécula nova, desconhecida da química, no complexo ativo do extrato da Kielmeyera aureovinosa. "Trata-se de um produto com aplicação importante para a saúde pública, que até então não foi encontrado em outras áreas do País", destaca Carvalho. Ele conta que, para chegar à droga inovadora, foi necessário testar diversas outras plantas. "De 49 plantas que apresentavam algum potencial farmacêutico contra o Sarm, entre as catalogadas no banco de extratos da empresa, a Kielmeyera aureovinosa foi a que apresentou o melhor resultado", relata.
Biodiversidade com potencial de cura
Divulgação Extracta |
À frente da Extracta, o pesquisador Antonio Paes de |
A escolha do pesquisador de trabalhar com a aureociclina na forma de pomada, e não na de comprimidos, que teriam impacto maior na indústria farmacêutica, deve-se a uma questão prática: custo e benefício. "É cerca de 80 vezes mais barato investir na fabricação da pomada do que de comprimidos, o que também iria requerer testes mais sofisticados. Mas estamos abertos a essa ideia, se tivermos investimentos adequados no futuro", compara Carvalho. O desenvolvimento da pomada, contudo, promete ser um importante passo para cortar o mal pela raiz - ou melhor, pela porta de entrada da doença, que é a pele. "As infecções pela superbactéria Sarm começam pela pele. Elas costumam ocorrer em pacientes internados em hospitais e em pessoas que praticam esportes que requerem contato físico intenso", detalha.
O produto inovador não pôde ser patenteado no País, mas teve um pedido de patente provisional registrado nos Estados Unidos. "A aureociclina já tem propriedade intelectual, porque descobrimos a planta e inventamos um remédio a partir dela. O grande empecilho é a legislação brasileira, que proíbe qualquer patente de produto extraído da natureza, deixando o caminho aberto para quem quiser copiar o produto ou se apropriar de exemplares da nossa biodiversidade", destaca. E prossegue: "O Brasil infelizmente está nessa posição jacobina de não aceitar nenhuma patente de material obtido da natureza, em vez de aproveitar a biodiversidade como vantagem competitiva", contemporiza.
Divulgação Extracta |
A nova espécie, Kielmeyera aureovinosa: a) raiz; b) tronco; c) folha; |
A Extracta, fundada em 1998, foi a primeira empresa brasileira a obter uma licença especial do Ministério do Meio Ambiente para acessar a biodiversidade nacional com o objetivo de preparar uma grande coleção de extratos para a bioprospecção, isto é, a pesquisa de material biológico voltada para a exploração de recursos genéticos. Em dez anos de existência da empresa, foram mais de 225 expedições em busca de amostras vegetais, que incluíram incursões à Mata Atlântica e à floresta amazônica. Além do médico e professor Antonio Paes de Carvalho, participam deste projeto os pesquisadores Mario Gomes, botânico e descobridor da Kielmeyera aureovinosa; Otavio Padula de Miranda, microbiologista; Lisieux Julião, química e bióloga; e Giselle Accioly, coordenadora do setor de qualidade no estudo do produto. Todos participam como coinventores na patente provisional apresentada à agência americana de marcas e patentes, o USPTO.
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