Os primeiros casos comprovados de infecção pelo SARS-CoV-2 foram registrados no final de 2019. Hoje, menos de um ano depois, o coronavírus já sofreu diversas pequenas mutações por todo o mundo, podendo modificar a maneira como circula e, até mesmo, como atinge o corpo humano. Procurando conhecer as diferenças e similaridades de cada, um grupo de pesquisadoras da UFRJ sequenciou o código genético de 17 amostras do vírus que, atualmente, circula no país.
Rosane Silva, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), juntou-se a Clarissa Damaso, sua colega de unidade, e Luciana Costa, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG), além de Nádia Vaez, do Instituto de Biologia do Exército, na tarefa de analisar uma série de amostras disponibilizadas na Gisaid, plataforma que reúne dados genômicos globais.
As mutações até então obtidas do vírus forneceram padrões de distribuição pelo mundo, relatando a história de eventos migratórios, distintos e fundadores da pandemia.
“Os genomas do SARS-CoV-2 estão intimamente relacionados e estão submetidos à seleção evolutiva em seus hospedeiros humanos, muitas vezes sofrendo eventos paralelos de evolução, isto é, a mesma mutação viral surge em dois hospedeiros humanos diferentes”, contou Silva.
A equipe realizou o sequenciamento genético de amostras e obteve o genoma viral completo de 17. Logo após, as pesquisadoras fizeram a detecção de variantes por meio da bioinformática e puderam compreender melhor de que maneira elas se distribuíam pelo território. “As sequências são mapeadas ao genoma de referência (Sequência de Wuhan) para a identificação de todas as variantes virais de forma qualitativa e quantitativa das regiões estruturais e não estruturais. As sequências são alinhadas ao genoma de referência do SARS-CoV-2”, explicou a pesquisadora do IBCCF.
O trabalho realizado pelo grupo descobriu que existe um tipo de vírus dominante no Brasil, o da linhagem B1-33, mas há também outras linhagens. Isso comprova que a pandemia chegou ao país vinda de diversas partes do mundo.
“Utilizamos 200 sequências brasileiras e de outros lugares para comparação e observamos que existem sequências semelhantes distribuídas por todo o Brasil, uma vez que os primeiros portadores do vírus chegaram de outros países e esse contato se espalhou para todo o território. Encontramos amostras do Rio de Janeiro semelhantes às de estados do Norte, como do Amazonas e Acre, no nordeste do Maranhão e, também, no sul de Santa Catarina.”
A iniciativa se junta a outras similares no mundo que buscam conhecer melhor o coronavírus para compreender de que maneira ele surgiu, se espalhou, se modificou e, principalmente, como combatê-lo. Segundo a professora, os modelos tridimensionais das proteínas de interesse do vírus, contendo as variações observadas pela equipe, irão contribuir para a busca de sua assinatura proteica, que pode culminar em uma vacina eficiente. A análise dessas mutações, que se tornam variantes genômicas – determinadas pelo sequenciamento dos genomas –, pode ser usada para descartar ou confirmar efeitos clínicos e de disseminação da infecção por SARS-CoV-2.
“O conhecimento do tipo de vírus e de suas relações de parentescos pode nos ajudar a traçar um caminho natural de propagação. E essa informação pode ser útil na política de implementação dos testes diagnósticos, para distribuição de recursos e alocamento humano, impedindo que a propagação da COVID-19 seja maior. Além disso, as alterações, mesmo que pequenas, podem modificar a interação com os medicamentos utilizados no tratamento. Finalmente, o detalhamento minucioso do genoma do vírus circulante no Brasil pode ser valioso na escolha precisa do tipo de vacina a ser utilizado”, concluiu a pesquisadora.
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Fonte: Site Conexão UFRJ (Adaptada)